quarta-feira, 18 de março de 2009

Senna x Galvão

Esse é um episódio contado no livro "Deixa que eu chuto", de Renato Maurício Prado. Repórter do jornal "O Globo", o jornalista cobriu como correspondente toda a temporada de 1987 da Fórmula 1. Naquele ano, Nelson Piquet se sagrou tricampeão ao conquistar seu único título pela Williams e Ayrton Senna, a bordo da sua Lotus amarela, finalizou o campeonato em terceiro.

Em seu relato, Maurício Prado conta alguns episódios "excitantes" que passou com Senna ao longo do ano. Num deles, o jornalista caminhava com dois colegas no estacionamento do autódromo de Zeltweg, na Áustria, quando avistou a BMW azul de Senna ao longe. O piloto da Lotus acelerou na direção deles.

A toda velocidade.De forma instintiva, todos os três se tacaram para longe, caindo na grama ao lado do estacionamento. Ayrton parou o carro, saiu rindo e provocou: "Mas que bando de medrosos, hein? Olha só como eu parei longe de onde vocês estavam?", brincou Ayrton, apontando para as bolsas que os jornalistas deixaram para trás e ficaram a apenas alguns centímetros do para-choque da BMW.

Durante o fim de semana do GP do México, Maurício Prado viveria sua maior aventura com Senna. Junto com outros jornalistas, incluindo o locutor Galvão Bueno, eles saíram para um jantar "em que se conversou de tudo, menos de automobilismo". Na volta para o hotel, Galvão ia dirigindo um dos carros alugados e Senna vinha no outro. Foi aí que começou um surreal racha pelas ruas da Cidade do México. Maurício Prado, que estava no carro de Galvão, conta como foi:

'Se segura que lá vem ele...'. Parados no sinal, custei a entender o alerta de Galvão. O ronco do motor do carro de Senna me despertou para a realidade. Mal tive tempo de apoiar as mãos no painel à minha frente, antes que fôssemos abalroados na traseira. Engatando a ré, Galvão jogou o nosso automóvel contra o de Senna. Um acelerava para frente, outro para trás. Para-choques colados, os dois carros cantavam pneus alucinadamente e uma espessa cortina de fumaça, com cheiro de borracha queimada, emergia-se do asfalto.

Olhos esbugalhados, os motoristas, à nossa volta, não entendiam patavinas. Quando a luz verde do sinal enfim surgiu, arrancamos voando, perseguidos pelo Ayrton. Na madrugada da Cidade do México, disputamos, então, um Grand Prix de malucos. Ora era o Galvão que jogava nosso carro contra o de Ayrton - e toma de pancada nas laterais, na traseira e até nas portas um do outro - ora era Ayrton que desaparecia numa esquina para surgir numa transversal, duas ou três ruas à frente para mais uma tremenda cipoada, quase nos matando de susto...

A situação era tão surrealista que, embalado pelo delicioso vinho do jantar, já estava até achando graça quando, enfim, entramos no hotel - vitoriosos após acertamos uma última 'lambada' no carro de Senna. Mais surreal mesmo somente a cena de entregados dos veículos, no aeroporto, na manhã seguinte. 'Esse trânsito de vocês é infernal, hein?', comentou Ayrton, antes de jogar a chave para o funcionário da locadora, que até hoje deve se perguntar como alguém capaz de sofrer tantos 'acidentes' podia guiar profissionalmente".

Senna Eterno.

2 comentários:

Anônimo disse...

Isso é admiração ou rejeição ao Senna?

thiaguinho de mamãe disse...

Admiração, sempre!